
Hoje, quando sair do trabalho, vou para o metro da Rotunda, pisar fetos.
Que tal? Querem vir? Dizem que é giro.
Ah e amanhã, se o cinema estiver esgotado, vou tentar ir abortar.
Vou já fazer o teste na farmácia e passar umas horitas em pura adrenalina até dizer ao meu marido: "Mor, amanhã já temos programa, zuca para a parteira da Damaia. Essa ainda não conhecemos e dizem que tem uns cortinados todos na moda!"
"Na campanha do movimentos mais radicais do Não, nós vimos de tudo: a carta do feto à mãe, as lágrimas de Nossa Senhora, o regresso do Zézinho, os panfletos com fetos de três meses estraçalhados e as teses revolucionárias (embora empíricas) segundo as quais os embriões já sentiriam dor às nove semanas. Mas o mais baixo, no sentido literal, a que eles chegaram está nas escadas da estação de metro da Rotunda, em Lisboa. Os transeuntes são obrigados a pisar as seguintes frases, grafitadas a vermelho e negro: "Ajudem-me, por favor"; "Tenho dez semanas"; "Não me pisem". Entre as frases, pequenas manchas a imitar o sangue."